As Rosângelas de Fortaleza

         Hoje conheci alguém que me fez pensar um pouco na realidade miserável urbana. Ao pegar o ônibus de volta do Centro, sentei ao lado de uma garotinha que aparentava uns 12 anos de idade e aos poucos fui puxando conversa com ela.
         A garota havia ido ao Centro com o pai e a irmã que parecia ter de um a dois anos a mais que ela. Ambas vestiam roupas sujas e o cansaço por mais um dia de trabalho era visível em seus rostos.
         Perguntei se ela estudava e ela me disse que havia parado na quinta série, que tinha dez irmãos e que somente ela, a irmã e o pai trabalhavam. Todas estas informações obtive perguntando, por que em nenhum momento a garota tomou a iniciativa da conversa.
         Me disse ainda que se chamava Rosângela e que vinha para o trabalho todos os dias. Não pude deixar de, olhando aquele rostinho de menina, lembrar-me de minha infância e do esforço que meus pais sempre fizeram para que eu estudasse.
         Lembro-me das cartas de ABC rabiscadas e acompanhadas como lição de casa por meus pais, lembro também que meu pai sempre mudava de trabalho nas férias para não atrapalhar nossos estudos: meu e de minha irmã Elenilza.
         Sei que parece inocente o meu primeiro e singelo contato com a triste realidade urbana da cidade grande, mas também sei que em Fortaleza existem centenas e centenas de Rosângelas. Meninas destinadas ao padecer de uma vida sem educação e de uma consequente condição subumana de miséria e exclusão social.
         O que na verdade me pergunto, é o que de concreto posso fazer por garotas como Rosângela, que se multiplicam todos os dias nas ruas deste país. De que modo podemos evitar que a marginalidade cresça e a educação chegue até estas pessoas como forma de resgate social e até mesmo de preservação da vida. 
         Espero que tais perguntas sejam capazes, não só de nos inquietar mas também de mudar nossa atitude diante desta triste realidade.

Comentários

  1. Realmente e muito triste a realidade que encontra-se o nosso pais. Temos que acreditar que ainda iremos ver o Brasil mudar. Parabens pela a cronica. Te admiro muito!
    Sam
    P.S: Meu teclado nao tem acentos.

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