Brincando de ser grande

Quando a gente é criança carrega dentro de si um personagem teimoso que insiste em desejar que o tempo corra. Esse "menino traquino" que habita a nossa alma vive apressando-nos para chegar logo a hora do recreio, conta os minutos para o sinal tocar e não ver a hora de devorar o almoço da mãe ao chegar em casa. 
Mais tarde, na adolescência, quando nos chega a ansiedade dos primeiros encontros, a inquietude da rebeldia, a desobediência ao receber os "nãos" dos pais, nos tornamos um pouco menos apressados e mais inconstantes, vulneráveis também. E aquele menino traquino de antes dá lugar a um "sujeito teimoso" que vive em busca de repostas para perguntas que o mundo vive a mudar.
Mas a vida, estrada da experiência e livro de páginas finitas, ensina que não há tempo para morar em nós, nem o menino traquino, nem o sujeito teimoso. A vida nos ensina que é preciso ser um pouco dos dois e é nessa fase, chamada também de juventude, que florescemos para o mundo.
E aí descobrimos o quanto é bom sermos traquinos, teimosos, inquietos... 
Por que juntamos ao mesmo tempo as experiências da infância, os arroubos da adolescência e a coragem bonita da fase mais célebre da vida; a juventude.
Finalmente, chega-se à fase onde é possível escolher a idade, a atitude e a cor dos sonhos que carregamos. E aí, espera-se que se abram as olhos da criança que já fomos um dia.
Eu, inquieta como sou, na infância lembro de ter pressa de viver, de correr pelas veredas do sertão onde morava em busca da casa da avó ou dos tios. 
Lembro-me que a doce companhia de meus pais me ensinaram que ser gente é nunca deixar que morra dentro de nós o jeito ansioso de viver a vida, misturando-se ao tempero da sensatez adquirida nos outros dias que se seguiram. 
Como é bom ser um pouco de tudo, mas como é belo não deixar de sermos crianças embora maduros e sujeitos da própria história.

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