Eu ainda tenho um sonho
Por Aurenir Luz
Numa cidade pequena como tantas outras deste país, um grupo de jovens como tantos outros dessa geração, um dia se uniu por objetivos comuns e sonhos diferentes.
Desse encontro, sugiram muitas histórias, algumas contadas de um modo tão fascinante que foram capazes de motivar novas pessoas.
Da antiga casa de farinha em 2005, dos grupos de estudos embaixo dos juazeiros, do desafio de quem já conhecia a luta, de mais de uma década do PRECE, do brilho nos olhos de 17 jovens nasceu a Escola Popular Cooperativa de Paramoti.
Uma ideia nova, um desafio grande mas um sonho consistente: transformar vidas pelo simples fato de contrariar os números, alguns contrariar os pais, outros contrariarem as previsões e enfim, todos contrariarem os métodos de ensino e aprendizagem.
A lição adquirida no PRECE: de dizer o que sente e aprender com quem pouco sabe, de compartilhar o que aprendeu e de protagonizar a própria história foi trazida junto com as pegadas das travessias nos riachos e a poeira quente do caminho até o Cipó (comunidade sede do PRECE).
E foi sem haver ainda nenhum estudante na universidade que surgiu a EPC Paramoti e foi (pelo que sei) do grupo de Paramoti que surgiu uma nova realidade no PRECE chamada PROUNI, as duas primeiras aprovações (Edailson para o curso de Direito e Gleidciana, Enfermagem).
Foi também a EPC Paramoti a primeira a ter um CNPJ, a tornar-se uma associação de estudantes e mais uma instituição a não ser reconhecida pelos nossos governantes.
O tempo passou e mais e mais estudantes foram realizando o sonho dos primeiros: conseguiram entrar na universidade, e enfim, na tão temida Universidade Federal do Ceará-UFC.
Para os pais daqueles jovens a nova realidade parecia não caber na compreensão de quem nunca teve esta oportunidade.
Hoje, somos mais de 20 universitários: dos quais 09 estão na UFC, 06 no Instituto Federal de Ensino Tecnológico em Canindé, 05 no PROUNI e 01 na Universidade de Coimbra, Portugal.
Por outro lado, temos 10 estudantes que se reúnem de quarta a domingo num espaço cedido pelo pároco local, um terreno com o alicerce encoberto pelo mato e um sonho engavetado de um dia erguermos um prédio.
Mas o que é um prédio diante de tanta luta, se apenas 06 universitários continuam a colaborar com a instituição. Ainda falta nessa receita, um transporte como ponto de interseção entre esses estudantes que ao saírem de suas cidades acabam por terem de resistir à invasão de uma nova cultura em suas vidas e ainda assim ser o mesmo jovem da pequena cidade da paz, o mesmo sonhador de uma época em que difícil era passar no vestibular.
E a receita que um dia fez com que surgissem tantas oportunidades no meio do semiárido, chamadas EPC's perdeu muitos ingredientes no caso do nosso grupo: nos falta um lugar próprio, um transporte, uma credibilidade, uma iniciativa.
Particularmente, hoje fico feliz por saber que contribuímos pelo menos com a vida desses 21 jovens.
Se existimos até aqui deve ser por que não somos tão fracos assim.
Eu ainda tenho um sonho.
Comentários
Postar um comentário