Quero falar de uma coisa...


Na verdade, quero falar de pessoas, de um grupo que resolveu não mais permitir que podassem seus destinos, que roubassem seus sorrisos de meninos. De uma gente que, mesmo tendo nascido no sertão árido do Ceará, jamais deixou de cuidar do broto, de semear a esperança e ir em frente, mesmo quando as adversidades pareciam maiores.
Quero falar de uma gente teimosa que se reunia em plena casa de farinha, à luz das lamparinas e à luz da cooperação, em busca de um novo caminho, de um novo tempo e de uma nova história.
 Quero falar de uma gente que resolveu apoiar a quem ainda nem mesmo acreditava que filho de agricultor podia sentar no banco da universidade.
Quero falar de uma gente que semeava esperança, que se tornou professor, mestre e doutor em solidariedade. De uma gente que não conhecia o futuro, mas tinha certeza que não viveria para repetir o passado. De uma gente que compartilhava o conhecimento, a comida, o sofrimento e os sonhos e que encarava a tarefa enfadonha do estudo, horas e horas e noites a fio.
Quero falar de superação, de histórias de vidas, de filhos, de filhas, de pais e mães que tiveram a oportunidade de escrever e mais que isso, que tiveram a capacidade de modificar sua própria história. Quero falar de uma gente que vivia à margem, que não tinha acesso, que era excluída e de uma gente que se tornou protagonista, autônoma.
Quero falar de uma gente que mesmo depois de ter uma família constituída se atreveu a desafiar as leis do tempo e o generalismo da sociedade e entrou na universidade junto com a filha. De uma gente que abre as portas da casa, partilha a vida e faz escola.
Quero falar de uma atitude ou de várias atitudes, de uma cultura nova de ser não apenas um e sim parte de um todo. De uma gente que não desiste, que encara chuva, poeira, lama e encara o esquecimento do poder público.
Quero falar de uma gente que resiste às intempéries do tempo e estuda embaixo de árvore, em praças, em barracas de palha e em casa de amigo. De uma gente que pega a estrada altas horas da noite e acorda cedo para cooperar com quem ainda tem muito a aprender.
Quero falar de uma gente que troca o fim de semana de lazer pelas aulas de Redação, de Biologia, de Química, pelas aulas de contribuição social, de aprendizagem cooperativa e de mútua educação.
Quero falar de um jovem movimento chamado PRECE que chega aos 17 com jeito de 25 ou 30 anos e com ares de quem já viveu muito, na história contada por cada dos precistas. 
E como bem diz a música inspiradora de Miltom, o PRECE é e sempre será coração, juventude e fé.

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