Sede
As pessoas nos ensinam todos os dias.
Sempre tive muita sede de estudar, era boa aluna, tirava sempre dez na escola e jamais repeti de ano. Mas havia em mim, durante a adolescência, um milhão de sentimentos que gritavam em busca de alguém que me ouvisse. Na verdade, eu não sabia direito o que queria dizer, mas queria dizer.
Foi assim que compus a maioria das poesias de meu singelo e estreito livro Além de Mim, ali consta o testamento simbólico de uma juventude inquieta que havia em mim. Depois, as coisas foram ficaram mais claras e apesar das estatísticas de que "filho de pobre não estuda" e que nascendo mulher, o futuro é apenas o de procriar, descobri que queria estudar.
Isso era a minha vida, uma sede que bebia da água de muitos livros; de Machado, algumas coisas de Fernando Pessoa e qualquer coisa que fizesse sentido ou que não fizesse, mas que criasse um mundo alternativo.
Descobri também que eu detestava estudar sozinha, que era enfadonho, cansativo, chato mesmo. Foi aí que encontrei uma galera de um movimento estudantil chamado PRECE (Programa de Educação em Células Cooperativas) que tinha fama de levar filho de agricultor para a universidade (a Federal).
Nossa, eles devem ser muito bons!
E eu, que queria estudar mas que não queria estudar sozinha, passei a estudar com eles.
Tarefa nada fácil - quase 30 km de distância, no inverno; lama, rio cheio, no verão; calor, poeira, cansaço. Desafios?! Muitos, mas também muita vontade de viver aquela experiência, era como ter encontrado um oásis no deserto e era quase isso.
Não bastasse o lugar se chamar Cipó também bastante quente, no meio do mato, com pouca água e um monte de gente que, assim como eu, vinha ali matar uma sede.
Mas o que eu e (desconfio também que) eles não sabiam é que a sede a se matar não era apenas a de conhecimento, mas também a de partilhar conhecimento. E dessa nova descoberta surgiram tantas outras escolas como aquela e os sertanejos estudantes se tornaram universitários; foram à capital, e voltaram.
Quer dizer: nem todos voltaram, mas aí já é outra história.
O importante é que a maioria voltou para compartilhar a experiência que já haviam vivido.
Hoje, tendo fechado um ciclo desta etapa, tenho uma opinião sobre isso: a de que o conhecimento egoísta, mesquinho, travado no intelectualismo teórico não serve.
Não é bom aquele que sabe, mas sim aquele que se torna igual na hora de partilhar com quem quer aprender.
Sempre tive muita sede de estudar, era boa aluna, tirava sempre dez na escola e jamais repeti de ano. Mas havia em mim, durante a adolescência, um milhão de sentimentos que gritavam em busca de alguém que me ouvisse. Na verdade, eu não sabia direito o que queria dizer, mas queria dizer.
Foi assim que compus a maioria das poesias de meu singelo e estreito livro Além de Mim, ali consta o testamento simbólico de uma juventude inquieta que havia em mim. Depois, as coisas foram ficaram mais claras e apesar das estatísticas de que "filho de pobre não estuda" e que nascendo mulher, o futuro é apenas o de procriar, descobri que queria estudar.
Isso era a minha vida, uma sede que bebia da água de muitos livros; de Machado, algumas coisas de Fernando Pessoa e qualquer coisa que fizesse sentido ou que não fizesse, mas que criasse um mundo alternativo.
Descobri também que eu detestava estudar sozinha, que era enfadonho, cansativo, chato mesmo. Foi aí que encontrei uma galera de um movimento estudantil chamado PRECE (Programa de Educação em Células Cooperativas) que tinha fama de levar filho de agricultor para a universidade (a Federal).
Nossa, eles devem ser muito bons!
E eu, que queria estudar mas que não queria estudar sozinha, passei a estudar com eles.
Tarefa nada fácil - quase 30 km de distância, no inverno; lama, rio cheio, no verão; calor, poeira, cansaço. Desafios?! Muitos, mas também muita vontade de viver aquela experiência, era como ter encontrado um oásis no deserto e era quase isso.
Não bastasse o lugar se chamar Cipó também bastante quente, no meio do mato, com pouca água e um monte de gente que, assim como eu, vinha ali matar uma sede.
Mas o que eu e (desconfio também que) eles não sabiam é que a sede a se matar não era apenas a de conhecimento, mas também a de partilhar conhecimento. E dessa nova descoberta surgiram tantas outras escolas como aquela e os sertanejos estudantes se tornaram universitários; foram à capital, e voltaram.
Quer dizer: nem todos voltaram, mas aí já é outra história.
O importante é que a maioria voltou para compartilhar a experiência que já haviam vivido.
Hoje, tendo fechado um ciclo desta etapa, tenho uma opinião sobre isso: a de que o conhecimento egoísta, mesquinho, travado no intelectualismo teórico não serve.
Não é bom aquele que sabe, mas sim aquele que se torna igual na hora de partilhar com quem quer aprender.
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