Reações

Fonte: Google

Pronto! 10 anos de engajamento social, teorias adquiridas de livros e artigos sobre liberdade racial, compartilhamentos e curtidas contra o preconceito social no Facebook, discussões com amigos e parentes sobre direitos dos mais frágeis e tudo isso desaba em questão de segundos.

Sim, foi apenas um segundo para a minha reação fisiológica julgar o menino negro que encontrei na rua, cabelo descolorido nas pontas, bermuda, chinelo e fone de ouvido. Levei um enorme susto ao encontrá-lo quase de ímpeto em frente ao meu trabalho. A reação imediata foi voltar, recuar... Eu não soube o que fazer, imaginei mil coisas naquele momento, e nenhuma delas fazia sentido: seria um assalto ou apenas um garoto negro de bicicleta na rua e se ele não fosse negro, não sei... não pensei, não deu tempo pensar nisso.

A iminência de uma possível ameaça me deu uma sensação terrível de impotência, de não saber o que fazer naquele momento, de estar ali julgando um desconhecido sem nenhuma prova, apenas pela evidência de alguns rótulos. Eu não queria usar os rótulos, mas não havia outra coisa a fazer. Foi uma sensação terrível. Uma confusão mental, sentimental, física...

Já fui assaltada uma vez e acredito que o perigo pode vir de qualquer forma, cor ou aspecto, por isso geralmente, acho que qualquer pessoa na rua pode ser uma ameaça. Infelizmente, os índices de violência em Fortaleza são assustadores, tanto quanto muitas cidades brasileiras, o que faz com a gente ande assim trocando calçadas e desconfiando das pessoas.

Mas enfim, diante do garoto e do susto que tomei a pior sensação realmente, foi ver que o rapaz, na verdade, estava chegando ao local do seu curso para mais uma tarde de aula. Ele esbravejou a revolta, balbuciou uns palavrões em protesto à minha reação e eu senti aquela angústia de ter julgado alguém tão rapidamente em tão míseros segundos. Aquela reação física no meu corpo mexeu com o meu intelecto e com os meus sentimentos.

Não fui capaz de usar em segundos a minha experiência e o meu discurso de uma sociedade mais justa e igualitária. Devo admitir que estamos nos destruindo enquanto sociedade e sinto muito em contribuir com isso também.

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